28 de set. de 2008

Opiato

Fotografo minha alma e ela está vagando pelas nuvens. O amor é o mesmo desde o início dos tempos.
Minhas lágrimas desapareceram na chuva, gentilmente convencidas em consequência de você.
Aprendi a ler nas entrelinhas do destino, que tece a trama com cuidado. Teus braços me transportam para outra dimensão, onde as tonalidades da existência misteriosamente se colorem.
O quadro está sendo pintado por um artista imperfeito, ansioso, deslumbrado. Imaginei caminhos lineares, mas fiquei às voltas com as voltas da vida.
As tintas se misturavam, as tramas se desfizeram, se refizeram, e as cores me confundiram. Não percebi as mudanças.
Tudo o que senti, contemplei e experimentei desapareceu.
A vida desfez os pontos, embolou as linhas e transformou composição.

en avant


Estou procurando anjos, tentando encontrar a paz. Sigo movida pela mesma fidelidade, desconsiderando as armadilhas do amor, numa perspectiva eminentemente carnal.
A separação não está mais fora, entre mundo e palavras, mas no interior da alma. História de absurdos com improvisos vibrantes na natimorta capacidade de pensar (ou talvez uns fecundos ensaios).
O lado avesso da moeda encontra um tom menos afetado na arrogância dos medíocres. Coloca sua própria alma dilacerada e despojada a ponto de contagiar e comover.
O cheiro do seu sono permitia uma mobilidade de dominar as paixões, os impulsos e os fomentos.
Sucinta maiores reflexões sobre a possibilidade de encontrar o verdadeiro sentido do amor. Sobem e descem os anjos nos dias esquecidos de passar, na pureza de jamais procurar os culpados nem os inocentes.


foto: Kenner Campos

in vino veritas

Além da surdina dos butecos de esquina, dolorosamente honestos, como suportar os longos silêncios?
Uma farsa montada,tentando negar-lhes o efeito. Alcançando a poetização da vida,aquém das montanhas,além dos mares.
Suporto a mim mesma, para bem conhecer o nada. Magoaram-me o pensamento, barbarizaram-me a alma.
Não canto a dor. Fora dos muros exalava acordes suaves e brandos. Aprecio a finitude humana como espetáculo encantador do futuro. Um distinto silencio,imundo. Embriagava-me com lágrimas. Fonte de referência indispensável no acelerado processo de transformação. Esse possível desencanto talvez encontre sentimento contrário entre meus pares.
As escolhas são um diálogo que evaporam-se e sobem aos céus. Meras conclusões sobre as preferências declaradas ou inconfessáveis.
Valha-me Deus!
Valha-me Deus!


kelen
No momento reflito por quais caminhos seguir. Pregada àquele limite que não conheço bem, em algum lugar entre o nada e a existência que persiste.
Indesculpável indiferença tão dolorosa e por vezes consoladora, que eleva por um momento a voz de um desespero sublime.
Os elos que ligam-se e separam-se na grande viagem pelo mundo das paixões, saúdam suas diversidades como uma bênção. A maravilhosa complexidade humana estava relegada a um estereótipo, sem alimentar qualquer expectativa.
Resulta num panorama amplo sobre os momentos mais dramáticos do conflito verdadeiramente autoral.
A vida insistia em novas lições da mundanidade geral. Duro destino que partilham os que amam.

15 de set. de 2008

Verbo errante que andava solto pelos desertos,
era divindade nas encruzilhadas de viajantes
e bandidos.
Não era possível mas assim era.
Nunca houve um artista como ele, guardião
do portal e dos povos do mundo.
Nesta terra pela noite envolvida
e de magnificiencia incomparável,
a lâmpada da minha alma flameja sem hesitar.
Eleva meu coração e alegra meu espírito.
O sol já ia alto no céu.
Abraçava a terra, cobria-a, beijava-a.
Sobre tua estrada havia sempre a sedução,
que o remetia vorazmente às rodas de fogo.
Ocultava porém uma grande frustração:
esperava ansiosamente ouvir os sons,
aqueles dos outros mundos que os sonhos
do homem construiu.
Ele se ergueu doído, magoado,
num transe de amor insatisfeito.
A passos de lobo, como se houvesse apenas um vento,
voltou-se com todo respeito para dentro do céu
(os celestiais assim quiseram).
Seus longos cabelos flutuavam sobre os montes,
tão pleno de encantos.
"Carregar-te-ei de qualquer forma"
Com essas palavras o anjo desapareceu.
Ele tinha o poder de ler os corações humanos.

8 de set. de 2008

Por que te havia eu de amar pela escuridão da noite,
nos lugares ermos e às horas mortas do alto silencio.
Elegia uma sofrida e mutilada, mal refeita de uma dor
que talvez não tenha cura.
É uma gota irrelevante e amarga num oceano de desilusões
e falsas promessas.
Quão fundo é o abismo cavado neste coração pela desventura.
Eu amei como ninguém talvez ainda o amara.
Meu coração de fogo queimou-me o viço da existência
ao despertar dos sonhos do amor que o tinham embalado.
A consciência mentiria a si própria se duvidasse
um instante das promessas do poeta.
Seus risos, seus beijos já não eram meus.
E um dia ele partiu.
Partiu e deixou meu coração cheio de vícios seus.
A voz sufoca-me a garganta após longas noites
perdidas ao relento. Emudeci.
Eu vos esperava há tempos, e no meio de minha melancolia,
de minha tristeza, estremecia de amores e agonia.
Ilumina, porem, não finaliza.
Aqui há folhas inspiradas pela natureza ardente do corpo,
como nem Dionísio sonhou. A realidade não era assim tão simples.
Quando sopraram os ventos da mudança, sem casa e sem direção,
não havia lugar distante demais.

7 de set. de 2008

Diário de bordo de um coração partido

Escrevo sobre o corpo nu, pintado com sangue, trechos de memorias de meu amor-cão.
Esquartejei minha estimada coleção de sonhos apodrecidos pelo tempo, esse senhor impiedoso cheio de truques baixos e sujos.
Traço os contornos e as perspectivas de um Apocalipse iminente, quase um mantra
de um sedentarismo metafisico.
Amor, prefiro não comete-lo, a esconder verdades inconfessáveis sobre o medo e a culpa, mera descrição das experiências vividas e a ansiedade em vivencia-las.
A sensação é de algo mal-resolvido. Coisas inteiramente obscuras vem a tona de forma velada, não com revolta, mas com total aceitação.
Vivendo no poço sem fundo do esquecimento vejo miragens de pessoas vazias de olhos esbugalhados, atormentadas por demónios praticamente invenciveis. Oportunidade rara e especial de olhar, ainda que de relance, para dentro da alma.
Visto o amor como uma peça ambígua, que enfeita e machuca ao mesmo tempo. Sua cortina de laminas me impede de ultrapassar a redoma criada em um misto de proteção e afastamento. Uma espécie de cegueira involuntária.
Cores diferentes alcanço, no efeito entre a realidade e a ilusão, a verdade e a turbulência, questionando a fisicalidade das coisas do mundo e reorganizando-me segundo minha poética banalidade sentimental.
Acredito que haja uma verdade mais ampla e profunda quase que exclusivamente do lado escuro do homem e da vida.
Não escrevo o que vejo, mas o que sinto.
Não toco a vida com a ponta dos dedos. Faço com paixão, com entrega.
Toda energia compactada num gesto ainda não completo, todas as estradas à frente, nenhum peso às costas.
Afinal encontro a paz no momento imediatamente antes do salto.
O hoje absoluto repleto de amanhã.

6 de set. de 2008

Título obrigatório

A loucura me beija de manhã. Desperta meus olhos ao nascer do sol. Celebro a vida entre irmãos.
Não pude ver, senão por acaso, outra coisa interessante.
O amor e a harmonia equacionam a soma de todo planeta em sintonia com o grande fluxo de informações.
Vasto mundo concretista. Só restou a repetição do caos.
Imagens impressas em espelhos que não espelham; criam simulacros repletos de significação, concentrados em fazer uma exaltação sem sutileza nem densidade.
Mil possibilidades sonoras. A musica é que é importante.
Meu pensamento abismara-se no nada, contrariando o tempo e minha história.
Perdida na lembrança esmaecida de um passado feliz e na promessa de um futuro de remissão, a duvida preenche minha mente.
Jamais sonharia com isso. Um elemento estranho dentro de um álbum cheio de força.
Os pés sujos pelo pó e pelos anos se tornam palco de historias que vivem ali seu crepúsculo. Acrescentando uma certa dose de melancolia e sensualidade pela escolha vivida.
Descubro uma vigorosa paixão pela palavra, com uma grandeza muito tranquila. No seu belicoso emaranhado transformo o amor em ensaio harmonico embutindo uma linda e única afinidade eletiva.
Monumental agrupamento de corpos, bebem uma inacreditável vestimenta na ausência de ética. Materializam os conflitos da mente em dissolvência e divisam o ventre de Gaia em momentos tocantes de pura entrega. Alguma complexidade psicológica alem do alargamento antropológico.
Insano chicote que marca a diária tortura, temo não ver mais seu rosto se iluminar. Não pare aqui. As estrelas se recusam a brilhar.

4 de set. de 2008

Paradoxo mozaico cosmologico

Despertai, olhai para fora e percebei o vento.
Contemplai o oceano, a linha que quebra as ondas.
Aqui é um outro mundo, outra dimensão.
Dimensão liquida, cor azul e balanço. Tudo vibra, eternamente, como um sedutor, buscando na pluralidade das experiências amorosas, o sentido da sua vida.
Recuperai os restos mortais... intelecto e espiritualidade, no caleidoscópio de memórias.
Travessia de sensações.
Desvendai a encorpada neblina sobre o entendimento cosmogonico. A paz no meio da guerra.
Meu lotus de mil pétalas, que ocultou toda sua luz até que a terra e o céu tivessem a mesma cor, conte-me uma historia que fale do amor verdadeiro. Sobre a cor, o movimento e uma sensualidade profunda.
Uma historia tão importante quanto passa a ser aquele rumor difuso que envolve existência, cujo coração esta desde o começo.
No nosso iluminismo fluorescente de boteco, um flerte apaixonado com a musica, parece desenhar uma delicada curva e reconquistar os perfumes de nossa infância.
A resposta esta soprando com o vento. Antes e depois dos anos, como uma mescla de dois caminhos em confronto com a brutalidade do real