25 de nov. de 2006

Rainhas sem reino
dilaceradas por algo mais além da doença,
delicadamente teciam o tecido da existencia.
Simbólica selva dos vícios humanos,
Que a memória se esvai, tentando relembrar.
Se acaso o tempo de perder lhe chega,
o passo me ha vedado,
imutavel na sua eternidade.
Desnudadas almas.
Se em mim somente havia o que perdi,
de saber tais desejos me acenderam,
que tao pungentes de antes nao senti-os.
Talvez por saberem do nosso insólito convívio,
nos permitem enxergar alem dos limites dos olhos.
Amor conduz-me e faz-me estar contigo.
Me resigno a cometer a loucura,
avessa a toda sorte em silêncio recolhido.
Que dor tao viva de mim se apodera?
Ó pesado fardo da desesperança
sereis ao fogo transportado
e nada mais me importa.

10 de nov. de 2006

De tristeza, só as lágrimas que cairam
a história é outra para contar.
Todo sonho no meio da madrugada,
feito faca cortando a carne, ferindo ia.
Vivendo nessa disputa
dentro das cercas do curral,
não passa um só tempo
tomado no silêncio,
que não lembre.
E tendo essas memórias,
nao tem quem nao tema
o medo de fantasiar.

7 de nov. de 2006

O traço se faz rastro.
Exausto,
Não ouso compreender.
Assobia, ou finge rir,
Debaixo do chicote de quem bate.
Medir-lhe a queda,
Um pálido sopro de morte.
Entre os desesperados,
Tu não extingues a alma.
Daqui estou vendo:
Flores frescas e ervas em teus cabelos.
Enquanto o tronco arde,
A roda gira, o poder queima.
O sol vive novamente.
Um sentimento esquisito
Recorda meu (mal) feito.
Cai a graça do sorriso
Que vai de mansinho.
Para cada dor, sem fundo
Estranheza e solidão.
Se sabe de repente,
Errar o caminho remoto,
Ser por ele soterrado
(sem angústia)
Mas num mortal desgosto.
Tuas histórias, teus casos,
Tão fatigados.
Não é música, é delírio
De cascata caindo
Fluindo da mata.
Amor caído ali, na poça amarga
O corpo incauto, jaz, frio e inacabado.

27 de out. de 2006

"Gosto dos venenos mais lentos!
Das bebidas mais fortes!
Das drogas mais poderosas! Dos cafés mais amargos!
Tenho um apetite voraz. E os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
E daí? Eu adoro voar!"
Clarice Lispector

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte." - JOÃO CABRAL DE MELO NETO

29 de set. de 2006

para biroska

Matou-me tambem a saudade.
No vago que deixa em alguem,
ela é profunda como a ocasiao perdida.
Das palavras soltas ao vento,
que se faz frase ao ouvido de cada um,
matou-me tambem a saudade.

19 de set. de 2006


Penso que seja preciso maturidade
para entender a vida,
as pessoas
e os morangos.
Mas é necessario a meninice,
a molecagem
pra conservar o gosto pela vida,
pelas pessoas
e pelos morangos.

15 de set. de 2006

Serve-me a hipótese de tentar.
O tormento que transmite atrás do muro.
Assim..rindo de mim!
Não sem medo, não sem dor
Mas não sei tambem como é agradar,
Traços faço em passos largos
quero viver de opostos
ser nada enquanto me vejo completa
Eu quis pensar tudo em você.
Ainda prefiro dizer
eu amo a liberdade.
Assim eu parecia mais humana.

13 de set. de 2006

Escrevo, na imensa falta que me faz, o deleite que a vida traz
De belo, ainda guardo as imagens aqui dentro
Nao mais tristes, piegas.
Melancolicas, talvez,
mas sempre desejosas.
Nao temo mais a cela que ha tempos deixei
Me apraz o vento no rosto
os pes no chao,
Sentimentos que afloram para dar algum sentido
A essa coisa que é a vida.

4 de jul. de 2006

Inconsoláveis amarguras

Vi no olho da serpente
que se levanta com tal desespero,
o terrível brinquedo da natureza,
que ri da vida e da morte.
E ela que a vertigem arrasta,
por um momento se torna cruel.
As suas furiosas carícias
eram menos perigosas que o abismo profundo.
Abismos monstruosos de prazer.
Que a todos acolhe no asilo da loucura.

28 de jun. de 2006

O Guerreiro

Dos seus terraços,
elas fazem-lhe sinais,
convidam-no, chamam-no.
Ele fecha os olhos e avança.
Nao obteríeis por resposta
senao um sorriso silencioso.

27 de jun. de 2006

qualquer coisa

Tenho medo de voltar.
Longe da cela,
a chuva sobre mim
era como lâmina quente.
Ventanias que passam,
Cataventos que rodam.
Caçoava do destino,
porque grave seria a morte.
Como o silencioso bater das asas no abismo da liberdade.

22 de jun. de 2006

Caminho

Desfaz o fermento amargo que o tempo traz
Aqui reina uma paz amena... encha seu coração
Arrasta-a para dentro de ti.
Na unidade da alma e da razão
Nós vivemos da luz, como os Deuses,
com seus traços deslumbrantes.
Do pântano nasce o Lótus
Que trago em meus ombros.
Não morra sem ter vivido,
sem ter amado,
sem ter tido a sua hora divina.

Para Luis Augusto (em algum lugar do universo)

Caminhas sobre os conceitos.

Uma perfeita antitese e um contraste completo,
fragmentos para fora do vidro.
Tão breve.
Tão certo.
Um salto a penetrar o abismo do espaço e do tempo.
Vai. Segue.
A procura é tanta...
O encontro, um segredo.
A morte não parece ser a fonte:
Tira deles tudo que eles sabem.
As diversidades concordantes revestem-se de um mútuo encanto.
Como a te esperar a compreender a natureza.

21 de jun. de 2006

Cotidiano

Deus não me socorreu.
Me ofereceram rios, as águas do paraíso
- aqui, confesso, tenho sede. Bebe-lo-ia num trago.
A impureza ingenua imperceptivel na sensibilidade refinada.
É quieto agora:
Lia fragmentos de memoria escolhidos.
Um grito preso,
de gole em gole torna-se ébrio,
esse mundo que desconheço.
Apenas um sopro na infinita madrugada.

17 de jun. de 2006

Refazer

Pesadelos da carne que se desfaz.
Na solidão fui refugiar-me,
nua e enegrecida, como seu cume.
Sopro de incerteza.
Pensava que cuspia os sentimentos,
mas só voava bêbada sobre a cidade.

Re-facto

Dor em preto e branco
dura e liquida como a vida.
Na generalidade atordoadora,
daquelas que se perde o gosto de viver,
não receio nada.
No espelho essa dor da vida que devora:
a minha voz muda,
meu canto cala,
permaneço e me desfaço.
O meu passado morto rege o meu destino
para tornar-me livre.

16 de jun. de 2006

Sonhos que são

Dispa-se dos pudores,
Das trilhas sinuosas que desvias.
Caminhas em teu próprio labirinto,
perdida, como todos... caminhas.
Sobrevive ao tempo que te devora.
Embriaga-te sem cessar,
De vinho, de poesia ou de virtude.
Para alguns, apenas as loucuras,
Na terra e nos lábios do homem.

Lucidez

Eu apenas vou
Nas entrelinhas ousadas
Pro sol disfarçar.
Caminho,
Por entre duendes e gnomos
A procura de cogumelos,
Em qualquer lugar longe do fim.
Nesse emaranhado de pensamentos,
Originalidade em conflito.
Como saber se podemos?
Palavras não saboreiam.
Mas, se ela nos alcança,
Nos engole.
Só o óbvio me ocorre,
Um mero aprendiz do destino.

Divagações

Um olhar procura algo que se perdeu

Sera voce, ou serei eu?

Perguntas sem respostas

Tendo por testemunha

Somente um escrito.

Sera que os pardais podem me ajudar?

Para um amigo (mozaico)

Sê, ante tudo
O mistério de teus olhos
Nas asas de uma libélula.
Sê livre, sê leve.
Um breve rascunho,
da tempestade à glória.
Solta-te ao inverso,
mostra tua força,
tua garra, tua voz e tuas armas.
Sê livre,
inspira-te ao olhar para a lua
Embora quem ouça de tua música
Nâo precise de outras inspirações.
Sê leve,
como a pluma que segue pelas ondas do universo.
Num trágico defeito vejo num segundo
Tudo de seu mundo de poeta e louco.

15 de jun. de 2006

Devaneios

Cravo punhais de ansiedade em meu peito
Tentando aprisionar num segundo
A toada melancolica da vida.
E uma calma impressionante
Perturba o sobressalto
das idéias que esvoaçam.

Velha bruxa

Subiu as escadas
Exultante, contando os degraus.
O dia estava no fim,
e o horizonte anunciava uma noite fria.
Na varanda, sentada naquela poltrona
Estava a velha Ester.
Tentando pegar com os dedos dos pes
Os gravetos que caiam.

Talvez, quem sabe

Eu sinto
Um frio por dentro,
Uma vontade louca
de sair de mim.
E ir por ai, quem sabe,
Talvez voando
Talvez correndo.

Luara

Lá fora o frio cortante,
Numa noite linda
O céu enfeitado de estrelas
E a lua, ah! a lua
Quem dera alcança-la
Com as pontas dos dedos
E fazê-la girar, girar...

Algumas palavras soltas no ar... assim, meio haicais.

I

Vem de repente,
Como um repente.
Me jogo, me solto.
Te agarro.

II

Não castro o meu amor.
Nunca o tive.
Sempre o senti.
Assim, meio de leve.

III

Atributos opulentos,
Corpulento, quem sabe.
Eu não acharia nada aqui.
Só o vento.

IV
Quando o céu se abrir
E de lá surgirem visões inacreditáveis
Acreditarei
Que tudo não passou de um sonho.

Construção

Se eu te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo
Ainda assim
Existe essa aflição
De ser eu, e não ser outra.

Desejo da carne (para Hilda Hilst)

O desejo, a mim não me faz medo.
Mesmo que eu desconstrua
Meus pequenos amores,
Não vou chorar arrependida
Pelas besteiras consumidas
Tenho em mim
Todos os sonhos do mundo.

Mundana


Hoje to meio assim
Vermelha
Boca, unha, buceta
Uma coisa um tanto puta
Sacana
Viadinha mesmo.

Assim...

Entre nós havia uma certa paisagem
De pedras e sobressaltos
Uma formalidade fria e cortante
De quem não se intimida
Quando desisto é que me surges
E sem te despedires
Foste embora.

Minha descida ao inferno (Baudeleriando)

E essa descida ao inferno,
a descer sempre um degrau na escada.
Tolice e erro.
Na noite espessa o frágil monstro
se alimenta de tuas maldições.
Sua língua em chamas
engole a espuma do ódio e embriaga-se
no ópio divinal.
Fardo tão pesado...
Torna minha alma um sepulcro
e me torna escrava do tempo.
Tempo esse que me escorre pelos dedos,
num vazio abismal,
E deixa o meu coração embriagar-se de um mito.
Assim, na noite negra
seu fantasma pelo ar,
revela-se aos vagos desejos perdidos.
Salvando me do risco e de todo o agravo.
Eu era como a criança.
Estupidamente frágil e ávida do espetáculo.
Desse desejo infernal que me enche de pranto.